Quem vê o agente administrativo Ronaldo Corrêa ministrando cursos de capacitação Brasil afora mal pode imaginar que o colega não acreditava ser capaz de passar no concurso para a Polícia Federal. “Vim de uma família muito humilde, que jamais teve carro ou televisão em casa. Trabalhar aqui parecia algo inatingível”, relembra o nosso servidor em foco.

O gosto pela leitura e a insistência da irmã caçula para fazer a prova mudaram o destino do colega. Antes da posse na Superintendência de Cuiabá, Ronaldo trabalhava como classificador de arroz no interior do Mato Grosso, já tendo atuado na construção civil, em supermercados e como instrutor em cursos comunitários de informática. O incentivo final para se dedicar ao concurso foi o filho pequeno. “Precisava de um salário melhor para cuidar do meu filho e decidi tentar a prova”, revela.

Ronaldo acabou alcançando o que julgava inalcançável e decidiu não parar por aí. Inspirado pelas histórias de sucesso de amigos e conhecidos que venceram por meio dos estudos, o colega decidiu apostar na capacitação. A área de fiscalização de contratos apareceu por acaso, após designação direta do dirigente regional do Mato Grosso. Com o passar dos anos, ele tomou gosto pela atividade e pelas responsabilidades que ela envolve, a ponto de se tornar professor do Curso de Gestão e Fiscalização de Contratos ministrado pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap). A paixão acabou se estendendo para a área acadêmica, com uma graduação em Logística pela Universidade Estácio de Sá e um mestrado em Administração Pública em curso pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).

O primeiro curso de capacitação na PF tem lugar especial na memória do colega, não apenas por ter sido o começo da jornada, mas por possibilitar a primeira viagem de avião. “Confesso que estava mais empolgado com a viagem em si do que com o curso”, revela aos risos. “Mas os conteúdos estudados foram tão surpreendentes para mim que imediatamente percebi que aquilo era algo que eu gostaria de repetir”.

No segundo curso, Ronaldo acabou sorteado com um livro sobre gestão de contratos, de autoria professora Madeline Rocha Furtado, referência na área e responsável pelas aulas. O conteúdo e a dedicatória constantes na obra abriram os horizontes do colega. Hoje, ele atua na Enap ao lado da mentora inicial. “Recentemente revelei essa história para a professora e ela se emocionou”, conta Ronaldo.

Como a área de logística pública demanda elevada quantidade de servidores para a operar, Ronaldo explica que há uma demanda muito grande por cursos de capacitação e reciclagem. Especialmente nos temas afetos às licitações e contratos.  “Assim, o servidor que se especializa para atuar como docente nessa área tem muitas oportunidades”, pontua o colega, que já ministrou aulas na Enap, na Anp, na Esaf, em instituições federais de ensino superior e em unidades regionais da PF.

Na avaliação do colega, todos os servidores administrativos devem seguir o exemplo e buscarem capacitação. “Os servidores da PF têm acesso a toda uma gama de cursos, de quase todas as áreas de atuação. Nisso a PF está à frente de muitos órgãos”, avalia Ronaldo. Sua única ressalva é em relação à quantidade de cursos para atividades de suporte. “Poderia haver mais opções”, admite.

As muitas viagens para capacitação dos colegas fizeram Ronaldo ter um conhecimento amplo da realidade da Polícia Federal. Ele elogia o comportamento dos servidores, sempre dispostos a buscar soluções para fazer o trabalho andar, e a postura ética em relação à coisa pública, afirmando que os desvios de conduta no órgão “são a mais absoluta exceção”.

Naturalmente, Ronaldo também vê aspectos negativos no órgão. Nesse ponto, ele destaca a falta de união entre os servidores de diferentes cargos, algo que, na visão do colega, impede a PF de se transformar em uma “grande família”. “Toda família tem seus desentendimentos, mas no final todos lutam para que ela dê certo. Eu gostaria muito que a nossa ‘família PF’ tivesse mais somas e menos divisões”, admite. Outro grave problema para o colega é a falta de gestão por competências na instituição, o que muitas vezes desencoraja os servidores a se capacitar. “Quando a capacidade não é o primeiro fator levado em conta pelos diretores, é desestimulante fazer o seu melhor”, critica.

No posto de suplente da representação estadual do SinpecPF em Sergipe e já tendo atuado como conselheiro fiscal do sindicato, Ronaldo elogia o trabalho desempenhado pela entidade e faz um apelo para que toda a categoria se filie. “Eu mesmo já me desfiliei no passado, mas percebi que esse não é o caminho. Precisamos fazer parte da solução”, aponta. O sindicato espera agora seguir os ensinamentos do colega Ronaldo, buscando sempre se capacitar para oferecer o melhor aos colegas.