Em outubro de 2015, os ânimos dos servidores da Polícia Federal estavam acirrados. À época, advogados da união, auditores fiscais e analistas tributários estavam próximos de fechar acordos salariais que os colocariam em patamar superior ao da carreira policial. Para garantir que a PF não ficasse para trás, — perdendo, assim, “prestígio” —, o diretor-geral Leandro Daiello Coimbra se envolveu pessoalmente, cobrando do governo tratamento igualitário para os servidores do órgão.

A atuação do diretor-geral surtiu efeito e até hoje a Direção se vangloria da defesa “institucional” feita naquele episódio, garantindo propostas salariais equânimes para a PF.

Passados dois anos, a situação se repete, agora entre os servidores administrativos. Na última semana, a reestruturação da carreira administrativa da AGU avançou na Câmara dos Deputados, ao receber parecer favorável da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público. Vale destacar que o referido projeto também trata da Carreira de Suporte às Atividades Tributárias e Aduaneiras da Secretaria da Receita Federal do Brasil. Por conta disso, foram aceitas emendas que, na prática, também irão reestruturar a carreira administrativa da Receita Federal (PecFaz).

Enquanto isso, a proposta que trata da carreira administrativa da Polícia Federal, produzida nos mesmos moldes do texto oferecido à AGU já no Governo Temer, segue parada no Ministério da Justiça. Apesar disso, não se tem conhecimento de nenhuma visita da Direção-Geral ao ministro Torquato Jardim para cobrar celeridade na análise da demanda, algo bastante comum em 2015, quando os afetados eram os policiais.

Importante frisar que as cúpulas da AGU e da Receita Federal estão engajadas na aprovação dos projetos que reestruturam suas carreiras administrativas. Acompanham de perto a tramitação na Câmara e enviam representantes para defender, junto aos deputados, os interesses dos servidores. E mesmo antes disso era possível ver a advogada-geral da União, Grace Mendonça, defendendo publicamente a reestruturação da carreira administrativa do órgão que ela comanda.

Está na hora da Direção-Geral da PF fazer o mesmo. Se a preocupação do diretor-geral é realmente com o engrandecimento da instituição — como ele próprio adora enfatizar —, não há desculpas para um menor envolvimento dele nas negociações das demandas da carreira administrativa.

Aliás, vale destacar que até mesmo as carreiras policiais concordam com a visão do sindicato. Tanto a Associação Nacional dos Delegados Federais (ADPF) quanto a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) já se pronunciaram inúmeras vezes em defesa da reestruturação, cobrando atuação da Direção-Geral nesse que é um dos raros temas de consenso entre as entidades.

Chegou a hora de a Direção-Geral também falar pelos administrativos. Apoio não se resume a tapinhas nas costas. Queremos uma defesa condizente de nossas demandas, tal como foi feito para as demandas da carreira policial. Fazer isso, é buscar o fortalecimento do órgão, é assegurar a isonomia, é mostrar que os atos administrativos não levam em consideração questões corporativas. É fazer o que é certo e o que é preciso.