“O policial federal  é, antes de tudo, um forte!”

Reportamo-nos à mensagem alusiva ao dia 16 de novembro de 2011, “dia do policial federal”, que parafraseia o bordão euclidiano “O Sertanejo é, antes de tudo, um forte!”. Euclides Pimenta da Cunha, mestre das letras brasileiro e antecipador de muitas questões hoje debatidas nas searas políticas, autor de obras como “À Margem da Historia”, “Contrastes e Confrontos”, “Judas-Ahsverus”, “Peru versus Bolívia”, e “Os Sertões”, sua obra maior.

Na segunda parte de “Os Sertões”, intitulada “O Homem”, a mais polêmica da obra, aparecem questões como a formação racial do sertanejo e dos males da mestiçagem. Euclides vê na mistura de raças um retrocesso: “De sorte que o mestiço – traço de união entre raças, breve existência individual em que se comprimem esforços seculares – é quase sempre desequilibrado. (…) E o mestiço-mulato, mameluco ou cafuzo – menos que um intermediário, é um decaído, sem a energia física dos ascendentes selvagens, sem a altitude intelectual dos ancestrais superiores.” Mas, Euclides se rende ao sertanejo, quando diz que: “apesar de seu atraso mental, o sertanejo surge como um titã: O Sertanejo é, antes de tudo, um forte! Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance revela o contrário. É desgracioso, desengonçado, torto, Hércules – Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. É um homem totalmente fatigado. Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude. Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias dormidas. Responde inesperadamente o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinária”.

“Euclides faz a descrição dos homens que ali viviam, ou seja, dos sertanejos, nos quais percebe que, ao contrário do que pensava antes de conhecê-los, eram fortes e valentes, ainda que a aparência dos mesmos não demonstrasse isso. Em seus primeiros artigos sobre Canudos, quando estava na redação de o Estado de São Paulo, Euclides da Cunha tachava a revolta de Canudos como “foco monarquista”, embora já demonstrasse preocupação com as condições subumanas do povo da região. Nessa época, sua visão era influenciada pelas informações que recebia, as quais primeiramente passavam por um “filtro” no Rio de Janeiro. Só quando pisou o solo baiano, como correspondente de guerra do jornal paulista, é que compreendeu o drama de Canudos em toda a sua extensão e o porquê daquela rebelião: percebeu que não se tratava de uma luta por um sistema de governo, mas sim contra uma estrutura que já se arrastava por três séculos. “Assim Euclides da Cunha vai colocar-nos diante de um país diferente do que até então se costumava retratar: a um Peri, a uma Iracema, a um Tupi de “I-juca Pirama, contrapõe o sertanejo, o jagunço,” a sub-raça”. Sem dúvida. “o sertanejo é, antes de tudo, um forte” por conseguir sobreviver em condições adversas.” – Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, Apostila de Sociologia on-line.

Euclides é testemunha ocular do abandono histórico, e denuncia à sociedade brasileira, o descaso dos governantes com relação aos grandes problemas sociais do Brasil. Assim, a obra que inaugurou o pré-modernismo brasileiro é atualíssima, apesar dos longos anos que nos separam de uma das páginas mais vergonhosas de nossa história. Lamentavelmente, pouco mudou. Esquecidos pela direção-geral na mensagem alusiva ao dia dos servidores policiais, os servidores do Plano Especial de Cargo da Polícia Federal “administrativa” são vitimas da indiferença, e da falta de interesse dos seus dirigentes. Chega ser lacônica a desculpa de não encontrar no meio político apoio para que possamos encontrar soluções que venham por fim às injustiças sociais cometidas aos servidores administrativa da PF. Analisando os problemas relacionados aos servidores dos Órgãos da Segurança Pública no Brasil em especial os servidores do PECPF, chegamos à conclusão de que o nosso país necessitaria hoje de um homem público da verve de Washington Luís, décimo terceiro presidente do Brasil e o último da República Velha. Coube ainda a Washington Luís, modernizar os Órgãos da Segurança Pública nomeando apenas funcionários públicos de carreira formados em direito para o cargo de delegado de polícia, não mais aceitando nomeações de líderes políticos ou de coronéis. Esta modernização da polícia ficou conhecida com o nome de “polícia sem política”. Ele reestruturou o Instituto de Identificação, o Instituto Médico legal e Instituto de Identificação Datiloscópica nas delegacias. Exigiu que os promotores denunciassem pais que não registravam os filhos, muitos na época, deu impulso ao registro civil.  No momento atual, se o Brasil estivesse sob o pálio do verdadeiro homem público, aquele que, verdadeiramente se preocupa com os problemas sociais, certamente não estaríamos enfrentando todo o tipo de adversidades como: parcos salários, obrigatoriedade de pagamento do porte de arma por servidores do PECPF mesmo sendo estes responsáveis pela condução e proteção das viaturas que são (patrimônio da união) nas perigosas estradas sem a mínima proteção, tornando-os presa fácil para vândalos e celerados que aterrorizam nossas rodovias. Falta de motivação, reconhecimento, abandono, discriminação, desvalorização, e exclusão social. Mesmo com todas essas controvérsias, os servidores do Plano Especial de Cargos da PF “administrativa” continuam firmes no cumprimento restrito do dever, “Por isso, é que, o servidor administrativo da PF é, antes de tudo, um forte!