Dos 7 que conseguiram a reeleição, 2 tiveram arrecadações superiores a R$ 1 milhão e outros 4 arrecadaram em média R$ 700 mil

Sandro Mabel (PL-GO) foi o que mais arrecadou entre eles, R$ 1,6 milhão; João Paulo Cunha (PT-SP) foi o segundo, com R$ 1,3 milhão

Apesar de disputarem a eleição desgastados pelo maior escândalo do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a maior parte dos chamados mensaleiros teve arrecadação quase milionária, segundo dados divulgados ontem pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Dos 7 que conseguiram a reeleição, 2 tiveram arrecadações superiores a R$ 1 milhão e outros 4 arrecadaram montantes de, em média, R$ 700 mil.

Além desses sete, o ex-presidente do PT José Genoino, afastado do cargo por conta do mensalão, obteve receita de R$ 742.661 para sua campanha.

Até o fechamento desta edição, o TSE não havia disponibilizado a prestação de contas do reeleito Pedro Henry (PP-MT).

O campeão de arrecadação entre os chamados mensaleiros é o deputado Sandro Mabel (PL-GO). Suas doações somam R$ 1.677.699. Ele gastou ainda mais -R$ 1.788.812-, valor superior ao da maioria das campanhas ao Senado.

Mabel e os outros deputados negam qualquer envolvimento com o mensalão e rejeitam o rótulo de mensaleiros. Contra eles foi aberto processo no Conselho de Ética. No caso de Mabel, ele foi absolvido pelos membros do conselho e, depois, em votação na Câmara.

Em segundo lugar no ranking das arrecadações aparece o petista João Paulo Cunha (SP), com um total de R$ 1.359.044. Mesmo com o valor expressivo que conseguiu trazer para o caixa de campanha, João Paulo terminou com déficit: gastou R$ 1.594.209.

Já Paulo Rocha (PT-PA) foi o que conseguiu menos dinheiro para a campanha entre os chamados mensaleiros reeleitos. Ele juntou R$ 594.172. E gastou cerca de R$ 140 mil a mais. Outro petista que teve arrecadação quase milionária foi José Mentor (PT-SP), R$ 914.040.

O deputado Professor Luizinho (PT-SP) gastou R$ 861.875 mas não conseguiu se reeleger. Entre os que não foram reeleitos, ele é o líder de arrecadação: conseguiu exatos R$ 848.560.

Para o ex-ministro do TSE Torquato Jardim, o alto volume de gastos na campanha deveria reabrir a discussão sobre o modelo eleitoral. “Os marqueteiros diziam que brindes e outdoors representavam 32% dos gastos. Com a minirreforma eleitoral de maio, o custo das campanhas deveria cair.”

Apenas três dos mensaleiros que enfrentaram as urnas em outubro tiveram caixa de menos de R$ 500 mil na campanha: João Magno (PT-MG), Josias Gomes (PT-BA) e Romeu Queiroz (PTB-MG). Os três não foram reeleitos.

Dos 19 parlamentares inicialmente citados nas denúncias do mensalão, 12 decidiram tentar um novo mandato. Destes, Paulo Rocha, José Borba (PMDB-PR) e Valdemar da Costa Neto (PL-SP) renunciaram para escapar da cassação. Os outros nove foram absolvidos das acusações.

As arrecadações dos deputados conhecidos como mensaleiros ficaram bastante próximas -e muitas vezes foram superiores- ao que conseguiram levantar alguns dos campeões de votos na disputa por uma vaga na Câmara. O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), líder de votos no Rio, juntou R$ 503 mil. Paulo Maluf (PP-SP), mais votado em São Paulo, somou R$ 819.808. O segundo maior votado em São Paulo, o estilista e apresentador de TV Clodovil Hernandes (PSC), conseguiu vencer a eleição gastando míseros R$ 14.378.

Todos os dados foram obtidos pela Folha na prestação de contas oficial dos candidatos entregues ao TSE.

Palocci gasta mais por voto do que colegasA campanha do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (PT-SP) por uma vaga na Câmara dos Deputados foi vitoriosa e cara. Ele declarou à Justiça Eleitoral um total de R$ 2,3 milhões em doações de empresas e pessoas. Gastou, em média, R$ 15,13 por cada voto obtido.

Palocci deixou muito para trás os candidatos do PT que tiveram sucesso nas urnas. O deputado reeleito João Paulo Cunha, o mais votado entre os petistas em São Paulo, declarou receitas de R$ 1,35 milhão – cerca de R$ 7,3 por voto. O segundo petista mais votado, Arlindo Chinaglia, declarou R$ 1,4 milhão, ou R$ 8,2 por voto.

Palocci também captou mais dinheiro do que o deputado mais votado de São Paulo, Paulo Maluf (PP-SP), que declarou apenas R$ 819 mil.

Edson Aparecido (PSDB), o tucano mais votado, declarou R$ 653 mil – cerca de R$ 2,6 por voto.

Os bancos, que registraram lucros históricos na gestão de Palocci na Fazenda, foram os principais colaboradores de sua campanha, com R$ 550 mil – desse total, R$ 150 mil foram doados pelo Unibanco por meio da controlada CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração), sediada em Minas Gerais.

Entre candidatos ao Senado, Perillo é o que mais arrecadouEleito com 75,82% dos votos para o Senado, o ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB) foi o campeão em receita e gastos na campanha, ambas de R$ 3,5 milhões.

O montante arrecadado por Perillo é 44 vezes a receita total de Epitácio Cafeteira (PTB), eleito no Maranhão com caixa de R$ 81,5 mil e cuja campanha foi também a mais barata entre os 27 senadores eleitos.

Além de Perillo, ao menos outros 12 senadores tiveram campanhas milionárias. João Vicente Claudino (PTB), que assume mandato pelo Piauí conseguiu doações que somam R$ 3,2 milhões. Outros eleitos com alta captação de doações foram Eliseu Resende (PFL-MG), com R$ 2,5 milhões; Kátia Abreu (PFL-TO), com R$ 2,4 milhões; e o ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), com R$ 2,1 milhões.

Na contramão, o senador reeleito Tião Viana (PT-AC), o ex-presidente Fernando Collor de Melo, eleito pelo nanico PRTB em Alagoas, e Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), recolheram volumes menores: R$ 163 mil, R$ 384 mil e R$ 395 mil, respectivamente.

Os dados das prestações de contas de quatro dos 27 senadores que ganharam a eleição não estavam disponíveis no sistema do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até o fechamento desta edição. São eles: Jayme Campos (PFL-MT), José Sarney (PMDB-AP), Expedito Júnior (PPS-RO) e Epitácio Cafeteira (PTB-MA).

O petista Eduardo Suplicy (SP), que teve a maior votação em números absolutos -8,9 milhões de votos-, levantou R$ 1,8 milhão e teve despesas similares. Joaquim Roriz (PMDB-DF), ex-governador do Distrito Federal, obteve recursos da ordem de R$ 1,6 milhão.

LETÍCIA SANDER e SILVIO NAVARRO

Folha de S. Paulo