Presidente quer ouvir mais uma vez o PT e o PMDB para fechar o time de seu segundo mandato. Petistas querem um cargo forte para Marta

Quatro meses e meio depois de reeleito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva finalmente demostra vontade de fazer a reforma ministerial. Nas conversas sobre o assunto mantidas nos últimos dias, anunciou a intenção de concluir as negociações com os partidos aliados ainda nesta semana. Para isso, precisa resolver impasses com os dois principais integrantes da coalizão de apoio ao governo: PT e PMDB. Os dois partidos pedem mais ministérios do que o presidente está disposto a conceder. Entre hoje e amanhã, Lula deve se reunir com os presidentes das duas legendas.

O PT reúne hoje sua Executiva Nacional. O presidente Ricardo Berzoini fará um relato do encontro da semana passada com Lula. Não foi uma conversa tranqüila. Lula não se mostrou disposto a atender aos dois principais pedidos do partido. Ofereceu apenas a pasta do Turismo para a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy. O partido queria emplacá-la em um cargo mais significativo, como os ministérios da Cidades ou Educação. Para melhorar a proposta, Lula sugeriu a Berzoini transferir para o Turismo a Infraero, estatal de cofres abarrotados responsável pela administração dos aeroportos brasileiros.

O presidente também não se mostra disposto a nomear um político petista para o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Prefere um nome vindo dos movimentos sociais. Pode ser seu amigo Manoel da Serra, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), ou alguém indicado por ele.

A tendência do partido é insistir no pedido do Ministério das Cidades, mas conforma-se com o Turismo se essa for a única alternativa. Na reunião de quinta-feira passada com Berzoini, Lula deixou clara a intenção de fazer valer sua posição sobre a pressão dos partidos aliados.

PMDB

Com o PMDB, a negociação também é complicada. O presidente pretende dar quatro ministérios para a legenda. Em dois deles, Comunicações e Minas e Energia, permanecerão os atuais titulares, Hélio Costa e Silas Rondeau. Os dois foram indicados pela bancada do partido no Senado. No Ministério da Saúde, o presidente nomeará José Gomes Temporão, avalizado pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Para a bancada da Câmara sobrou o Ministério da Integração Nacional, a ser ocupado pelo deputado Geddel Vieira Lima. Os deputados se acham injustiçados e cobram mais uma pasta. Ambicionam Turismo ou Agricultura. Lula não se mostra disposto a ceder.

No sábado, Lula voltou a jurar publicamente não ter pressa de fazer a reforma. Repetiu a fórmula de precisar mexer em um time vencedor. Mas os sinais apontam para a conclusão das negociações nos próximos dias. Alguns ministros, como Márcio Thomaz Bastos da Justiça e Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, já preparam as cerimônias de transmissão de cargo para seus sucessores.

Agenda cheia

Enquanto faz os últimos acertos para concluir a reforma ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de uma série de compromissos ao longo da semana. Hoje, promove reunião de coordenação política. Depois despacha com os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff; das Comunicações, Hélio Costa; e de Relações Institucionais, Tarso Genro. Recebe ainda o governador de Córdoba, na Argentina, José Manuel de la Sota. Encerra a agenda encontrando-se com o presidente nacional do PMDB, Michel Temer (SP), para definir a cota do partido na Esplanada.

Amanhã, vai a São Paulo para a abertura da 15ª Feira Internacional da Construção (Feicon), no Anhembi. À tarde, Lula vai ao Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos, para lançar o programa Espaço e Sociedade e inspecionar a montagem do satélite CBERS-II. Na quarta-feira, recebe o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega. No dia seguinte, promove uma reunião para tratar do Programa de Desenvolvimento da Educação, conhecido como PAC da educação, em alusão ao programa de crescimento econômico. Na sexta-feira, participa no Palácio do Planalto de reunião sobre programas para a área de habitação com o ministro das Cidades, Márcio Fortes. 

Gustavo Krieger e Sandro Lima

Da equipe do Correio

Foto: Carlos Vieira / CB