Taxa básica de 14,75% é a menor desde sua criação, mas, descontada a inflação, aperto monetário voltou ao nível de dois anos atrás

Após redução esperada de 0,5 ponto, BC diz que vai “acompanhar a evolução do cenário macroeconômico” antes de próximos passos

Acompanhando o ritmo de queda da inflação, o Banco Central reduziu os juros básicos da economia pela nona vez seguida. O Copom (Comitê de Política Monetária) cortou a taxa Selic em 0,5 ponto percentual -como já era esperado-, fixando-a em 14,75% ao ano.

Com essa queda, a Selic atinge o nível mais baixo desde a sua criação, em 1986. Isso não significa, porém, que tenha ocorrido um grande alívio no aperto monetário promovido pelo governo Lula: se descontada a inflação, os juros apenas voltaram ao mesmo nível observado no final de 2004. Além disso, seguem como os mais altos do planeta.

Para os consumidores, os juros médios estão perto de 140% ao ano. Para as empresas, a taxa média está acima de 65%.

A decisão foi anunciada por meio de nota que repete as mesmas palavras dos documentos divulgados nas últimas reuniões do Copom. “Dando prosseguimento ao processo de flexibilização da política monetária iniciado na reunião de setembro de 2005, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 14,75% ao ano.”

O BC diz que vai “acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião”, em agosto -a última antes do primeiro turno.

O BC é o principal alvo dos críticos da política econômica, que reclamam dos elevados juros praticados no Brasil -um dos mais altos do mundo. No momento em que a campanha presidencial começa a se intensificar, a defesa a ser adotada pelo governo é a de que, ainda que alta, a taxa está em queda e num de seus níveis mais baixos.

Mas são os chamados juros reais que representam melhor o custo de um financiamento e são os que mais afetam decisões de investimento das empresas e dos consumidores.

Nos anos 1980 e 1990, época de hiperinflação, a Selic chegou a mais de 3.000% ao ano, acompanhando a variação dos índices de preços. De 1999 para cá, o BC passou a fixar a taxa básica tendo como parâmetro o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Para este ano, a meta é mantê-la em 4,5%.

Segundo pesquisa feita pelo Banco Central com um grupo de cem analistas do setor privado, a expectativa é que a inflação deste ano fique em 3,77% -bem abaixo da meta oficial, o que, em tese, dá espaço para que os juros caiam.

Diretores do BC, porém, têm repetido que o fato de a inflação deste ano ficar abaixo da meta não deve ser entendido como um sinal de que os juros devam ser reduzidos de forma mais acelerada. A preocupação, agora, vai ser com o cumprimento da meta do ano que vem, que também é de 4,5%.

Estima-se que uma alteração nas taxas de juros leve até nove meses para fazer efeito, por completo, na economia. Sendo assim, o corte anunciado ontem irá afetar o comportamento dos preços em 2007.

O problema, para o BC, é que no ano que vem a inflação não deverá será afetada por eventos positivos ocorridos nos últimos meses, como a queda do dólar e a relativa tranqüilidade dos mercados internacionais -pelo menos no início do ano.

Para 2007, esses fatores não devem se repetir. As incertezas quanto ao rumo dos juros americanos e a alta do preço do petróleo são apontadas como os principais obstáculos à continuidade da queda dos juros.

NEY HAYASHI DA CRUZ

Folha de S. Paulo