É difícil ver o colega João Luis Rodrigues Nunes sem um sorriso no rosto. Líder sindical nato, ele costumava cerrar o semblante apenas nas reuniões com o governo, provavelmente um gesto instintivo para deixar clara a insatisfação da categoria administrativa com a ausência de respostas para pleitos históricos. Fora desse ambiente de luta, João é o amigo que todos querem ter, seja na situação ou na oposição.

Quem atesta o fato é o novo presidente do SINPECPF, Éder Fernando da Silva. Amigo de longa data, Éder acabou concorrendo contra João nas últimas eleições para a diretoria do sindicato, disputa que não alterou em nem um milímetro o companheirismo entre ambos. “Foi uma corrida voto a voto. Houve debates acalorados, mas, no final do dia, estávamos sempre confraternizando, inclusive após o resultado”, conta Éder.

Natural de União, interior do Piauí, João Luis ingressou na Polícia Federal em 1984, como agente administrativo. Sua primeira lotação foi em Brasília, no Edifício Sede, onde além de construir diversas amizades, João adquiriu gosto pelas atividades sindicais e associativas. “Era totalmente diferente do que é hoje”, relembra. “Ainda vivíamos sob o regime militar e não havia tanta liberdade. Mesmo assim, sentíamos necessidade de lutar pelos nossos direitos”.

Antes de se tornar sindicalista, João participou de duas gestões da Associação dos Servidores da Polícia Federal do Distrito Federal (Diref). A experiência o ajudou a entender como é difícil administrar interesses distintos de um público amplo. “É sempre bom estar do outro lado. O trabalho na Diref me fez ter dimensão do que nossos representantes de classe enfrentavam”.

Desde os primeiros dias na Polícia Federal, João participou ativamente das atividades classistas. Foi um dos fundadores da antiga Anasa e se orgulha de jamais ter faltado a uma manifestação da categoria. “Participei de todas as greves e protestos que ocorreram nas cidades onde eu estava. Acho que participar é fundamental. Não posso querer que minha situação melhore se eu mesmo não faço nada por isso”, avalia.

Há seis anos, João deixou Brasília e rumou para a vizinha Goiânia, onde hoje exerce a chefia do Núcleo Administrativo. Ele lamenta o fato de ser um dos poucos administrativos exercendo uma chefia de setor e credita o problema ao valor ínfimo pago hoje por essas funções. “O trabalho aumenta, mas o salário não cresce na mesma proporção. Você tem mais responsabilidade, sem contrapartida”, explica. João diz entender quem recusa assumir uma função de comando hoje, mas gostaria de ver o quadro mudar. “É algo primordial para nossas aspirações de valorização profissional”.

Com relação ao tempo em que esteve na diretoria do SINPECPF, João revela que justamente os momentos mais difíceis são os que ficaram mais vivos na memória. “Os colegas não têm noção de como é difícil negociar com o governo. Seria ótimo que cada um pudesse ter essa experiência ao menos uma vez para entender que as coisas não são tão simples como acreditam”.

Bem humorado, gosta sempre de enxergar o lado positivo das coisas, e garante estar otimista em relação ao futuro. “Espero que a nova diretoria consiga avançar onde as anteriores não conseguiram”, ele torce. “Uma coisa é certa: contarão com o meu apoio para o que der e vier!”, ele garante. Nós, testemunhas da fibra desse colega tão valoroso, sabemos que é a mais pura verdade.