Hoje vou tocar numa ferida que ninguém quer tocar de verdade. O problema dos funcionários administrativos precisa ter uma solução. Tá demais! Todos são a favor, ninguém é contra, mas vontade política, aliada a atitudes firmes e decididas para resolver o problema, ninguém possui. Está na cara que os funcionários administrativos da Polícia Federal estão sendo maltratados, desvalorizados e, equivocadamente, tratados como gente que presta um serviço dispensável e sem importância. Quem quiser negar que negue – não é o meu caso. Antes que digam que estou querendo fazer média em troca disso ou daquilo, rebato logo: estou velho para isso e não sou candidato a nada…

A Polícia Federal cresceu, tornou-se referência. Isso pôde ser comprovado numa recente pesquisa na qual foi apontada como a instituição pública mais confiável do país. É obvio que essa conquista foi obtida com a luta de muita gente. Greves doídas foram feitas, inclusive com invasões do Exército em algumas sedes, com grevistas punidos e outros indiciados em processos disciplinares. Parece que tudo foi esquecido, pois alguns não conseguem entender a luta de um segmento pela valorização, pelo crescimento profissional. Deixar os funcionários administrativos de fora dessa vitória é uma maldade, é indigno, pois a atividade policial torna-se inviável sem um quadro de apoio valorizado. Os policiais de verdade sabem que sua missão é investigar e prender. Eles sabem que misturar a parte administrativa com polícia não é uma boa solução.

Na condição de alguém que, junto com outros companheiros, contribuiu para a criação do primeiro sindicato de policiais do Brasil, peço a todos que se integrem na luta pela valorização dos funcionários administrativos. Precisamos estar juntos, pois é inegável que devemos a eles uma parcela do reconhecimento que temos hoje e que precisa ser repartido com todos. Aquela PF que é vista prendendo criminosos em noticiários da TV precisa deixar claro que o nível de excelência atingido se deve a vários fatores: planejamento, inteligência, meios materiais e uma execução exemplar, feita por policiais que compõem um dos melhores quadros do país, tudo isso amparado por uma área administrativa com alto padrão de qualidade. Sendo assim, precisamos ter a convicção de que uma polícia valorizada como um todo nos engrandece, nos deixa fortes e com condições de atender as expectativas de uma sociedade que vê na PF um modelo de instituição.

Quando o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos declarou que iria transformar a Polícia Federal brasileira numa organização aos moldes do Federal Bureau of Investigation, o famoso FBI americano, tive esperança em mudanças. Infelizmente não disseram para ele que as atribuições do FBI são executadas por agentes especiais com o auxílio dos agentes administrativos, lá denominados profissionais de apoio. Eles são especialistas em áreas afins como Direito, Contabilidade, Eletrônica, Idiomas, etc. No ano passado, informações revelavam que o efetivo do FBI era de 30.147 servidores, divididos em 12.416 agentes especiais e 17.731 agentes administrativos, o que dá uma idéia da importância que é dada à atividade de apoio, mostrando, com clareza, que o policial americano usa seu tempo na atividade principal – a investigação. Como podemos ver, o ex-ministro ficou longe de fazer a transformação que anunciou – infelizmente.

As coisas no nosso país são difíceis de serem mudadas. Acredito que isso agora pode ser feito, pois o atual Diretor-Geral é uma pessoa bem intencionada, que já deu provas de sua competência. Ele tem conversado com muita gente, ouvindo todos sem nenhum tipo de restrição. Por isso acho que nunca a PF teve uma oportunidade como essa para mudar alguns paradigmas enraizados no nosso meio. É uma tarefa difícil mas não é impossível. Esse modelo que aí está precisa ser revisto, está superado – quadros estanques, fechados em si mesmos, precisam ser reavaliados. A PF é uma só e é sabido que valores somente são construídos se amparados por uma confiança mútua. Todos que contribuem para o sucesso da instituição precisam estar convictos de que fazem parte de uma mesma equipe.

Finalmente concluo dizendo que não tenho a pretensão de estar de posse de verdades inquestionáveis. Por viver numa democracia, estou trazendo esse assunto para o debate, porque tenho a convicção de que temos a obrigação de trocar idéias para resolver um impasse que não faz bem para a nossa atividade. Quando estivermos convictos realmente do que queremos, vamos lutar juntos, irmanados em busca de um futuro feliz, sabendo que, como disse alguém um dia, só nós e mais ninguém temos o controle de nossas vidas, para a saúde e a doença, para a riqueza e a pobreza, a liberdade e a escravidão. Somos nós que decidimos isto, e não outros.

PS: Mentes são como pára-quedas; só funcionam quando abertos…

Valacir Marques Gonçalves

blog do vala – www.valacir.com

FONTE: WWW.SINPEF-RS.ORG.BR