Delegado da PF quer saber quem contratou o vôo para transportar o R$ 1,75 milhão

O delegado da Polícia Federal Diógenes Curado toma hoje de manhã, em Campo Grande (MS), os depoimentos do piloto Tito Lívio Ferreira Júnior e do dono da empresa de táxi aéreo MS, Arlindo Dias Barbosa. O objetivo é saber quem contratou o vôo que levaria de São Paulo até Cuiabá, em 15 de setembro, o R$ 1,75 milhão para a compra do dossiê Vedoin, que seria adquirido por petistas.

O vôo foi abortado porque o dinheiro acabou sendo apreendido pela PF na manhã daquele dia, em poder dos petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha, no Hotel Ibis Congonhas, em São Paulo, quando eles se preparavam para o embarque. Do dinheiro apreendido, parte era em dólares – US$ 248,8 mil.

Em depoimento, o empresário Luiz Antônio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas, disse que o dinheiro pelo pagamento do dossiê chegaria até ele num vôo fretado, a fim de evitar os riscos do transporte num avião de carreira.

Rastreamento telefônico feito pela PF nos aparelhos usados por petistas acusados de envolvimento na compra do dossiê constatou várias ligações de Valdebran nos dias anteriores à prisão. Identificou também três ligações do piloto Tito Lívio no dia 13 de setembro e uma no dia 14. A PF desconfia que eram para ultimar os detalhes do embarque do R$ 1,75 milhão. No depoimento, Vedoin disse que a sua fatia era de R$ 1 milhão.

A PF quer saber também para onde iria o restante do dinheiro, qual era o grau de envolvimento da empresa de táxi aéreo no esquema e quanto custaria o frete do avião. A esperança do delegado Curado é obter alguma pista das peças que faltam para fechar o quebra-cabeça da origem do R$ 1,75 milhão.

Já se sabe que uma parcela dos US$ 248,8 mil saiu da casa de câmbio Vicatur, de Nova Iguaçu, no Rio, que usou uma família de laranjas para realizar a operação. São também investigadas as casas de câmbio Confidence, Diskline e Centaurus por suspeita de envolvimento com o caso. A grande dificuldade é identificar a origem dos reais – R$ 1,16 milhão.

A PF acredita que o dinheiro foi levado para os petistas no Hotel Ibis Congonhas pelo ex-assessor da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo Hamilton Lacerda. Ele foi flagrado pelas câmaras do circuito interno de TV chegando ao hotel com a mala que conteria o dinheiro, no dia 14 de setembro.

Na quinta-feira a PF ouvirá novamente Vedoin para esclarecer as últimas dúvidas a respeito do esquema de pagamento de propina a parlamentares na compra de ambulâncias superfaturadas com dinheiro do Orçamento da União e também sobre o balcão de negócios que o empresário teria montado para vender dossiês envolvendo políticos na máfia.

A seguir, a PF deve começar a definir os artigos em que serão indiciados os envolvidos no escândalo do dossiê. Dos oito investigados, passíveis de indiciamento, sete estavam ligados à campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um deles, porém, o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), só pode ser indiciado com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), ouvida a Procuradoria-Geral da República, por ter direito a foro privilegiado.

Vannildo Mendes

O Estado de S. Paulo