A Polícia Federal chegou ontem a um dos suspeitos pelo vazamento de informações que favoreceram integrantes da máfia dos caça-níqueis. É o delegado Aldo Roberto Brandão, lotado na superintendência da PF em Mato Grosso do Sul, que já foi incluído como um dos alvos a serem investigados durante os desdobramentos da Operação Xeque-Mate.

Brandão aparece em conversa entre dois personagens que foram presos na operação, Alexandre Frozino Ribeiro e Elenilton Dutra de Andrade, como o policial que teria dado o alerta sobre a apreensão de máquinas caça-níqueis e a possibilidade de prisão do homem que é apontado como chefe da quadrilha, Nilton Cézar Servo, ex-deputado estadual.

O relatório da Polícia Federal reproduz o trecho em que o delegado aparece como suspeito. "Neste diálogo fica claro o contato do delegado de Polícia Federal Aldo Roberto Brandão com Alexandre Frozino Ribeiro, o interlocutor de Elenilton Dutra de Andrade no diálogo realizado no dia 19 de abril de 2007, quando Elenilton disse que o "delegado Aldo" lhe avisou para tirar o equipamento da rua, porque "ia ter operação", e informou também que "vai descer um monte de mandado de prisão" e que Nilton César Servo será um dos primeiros a serem presos".

Para os policiais que investigam os tentáculos do grupo, essa pode ter sido a senha que alertou Dario Morelli Filho – compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – e o próprio Servo sobre a operação. Numa conversa captada pela Polícia Federal, Morelli dá a entender que suspeitava que estivesse sendo grampeado e combina com Servo a troca dos aparelhos celulares que estavam usando para se comunicar. Os dois, segundo a polícia, são sócios em casas de jogos em Ilhabela, no litoral de São Paulo.

A polícia não informou se há trechos mostrando Brandão em conversas diretas com a máfia. Uma fonte da PF informou que o delegado está sob investigação e deve ser ouvido ainda hoje em Campo Grande. Apesar de ainda preservar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a oposição decidiu apertar o cerco ao governo devido à divulgação de novas informações sobre o caso. O líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio (SP), promete apresentar nesta semana requerimento de convocação do ministro da Justiça, Tarso Genro.

Quer que Genro preste esclarecimentos à Casa sobre a denúncia de vazamento de informações. Já os tucanos do Senado ensaiam deflagrar ofensiva para convocar o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, para tratar do mesmo assunto. Se as explicações não forem satisfatórias, a proposta de instalação de CPI específica para o caso – já em discussão – pode ganhar força, alertam caciques oposicionistas.

Se o ministro tiver explicações, ótimo. Senão, teremos de investigar até com uma CPI – declarou Pannunzio.

Ontem, Lacerda disse que não teria problema em comparecer ao Congresso, porque é obrigação de um dirigente de órgão público prestar contas aos parlamentares e à sociedade. Ressaltou, no entanto, que será perda de tempo se os senadores descambarem para "pura politicagem".

Se me convocarem, vou, mas espero que seja para uma conversa produtiva – afirmou Lacerda ao JB.

A suspeita de vazamento de informação para o compadre do presidente Lula ampara-se também em gravações telefônicas entre Morelli Filho e Servo. Em uma das conversas, Morelli – que prestou serviço à campanha derrotada do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) ao governo de São Paulo no ano passado – alerta Servo para que tome cuidado ao falar ao telefone. Além disso, afirma que havia ocorrido "um pepino feio". Os dois continuam presos.

Vasconcelo Quadros

Jornal do Brasil

11/6/2007

ATUALIZADO 27/09/2010: O delegado da polícia federal, Aldo Roberto Brandão, que, em 2007, no curso de operação xeque-mate, foi acusado de violação de sigilo funcional, foi absolvido da acusação em sentença em que o juiz julgou improcedente a denúncia, com fundamento no art. 386, I, do CPP.