Depoimentos confirmam a dificuldade de comunicação na área do acidente em MT

Os três controladores de vôo que prestaram depoimento ontem confirmaram à Polícia Federal que são muitas as dificuldades de contato com aeronaves que sobrevoam a área onde ocorreu a colisão entre o Boeing da Gol e o Legacy. Esses problemas de comunicação são tão graves e freqüentes que aquela região do Mato Grosso, segundo eles, é conhecida como “zona cega, surda e muda”.

– Os controladores de vôo tratam assim aquela área porque você perde não só contato visual, no radar, como também a frequência do rádio. Não se vê a aeronave, não se fala e nem se ouve nada. Ficam literalmente às cegas – disse o advogado Normando Cavalcanti, que defende os controladores.

Segundo ele, os controladores afirmaram que o problema acontece há anos. Ele afirmou que a extensão dessa área cega pode chegar até 70 milhas. Depuseram ontem o supervisor, o controlador de vôo e o assistente do controlador que estavam na hora do acidente. Os três depoimentos duraram oito horas.

O advogado negou que a equipe que monitorava o Legacy tenha ficado sem supervisão. Normando informou que o supervisor acumulou a função de supervisão geral. Os controladores contaram que o supervisor-geral se ausentou e que o supervisor assumiu seu posto, sem deixar de acompanhar o trabalho do controlador:

– Não houve nada demais. É rotina. O supervisor mais antigo acumula a função. Em momento algum o controlador ficou sem supervisão.

Ele acrescentou que o controlador trabalha com total autonomia. Os controladores afirmaram no depoimento que não tiveram qualquer responsabilidade com o que ocorreu e que só souberam do acidente com a divulgação do fato pelos meios de comunicação. Eles disseram que não sabiam que as aeronaves estavam em rota de colisão porque um dos radares informava que o Legacy estava a 36 mil pés e que essa era a altitude prevista no plano de vôo.

Em outubro, Boeing da Gol e Fokker da TAM quase se chocaram no Rio

Duas semanas após o acidente do Boeing da Gol com um Legacy, que matou 154 pessoas no fim de setembro, no Mato Grosso, um acidente semelhante quase ocorreu no Brasil: outro Boeing da Gol passou a 60 metros de um Fokker 100 da TAM, no Rio de Janeiro, segundo informou ontem reportagem do “Jornal Nacional”.

O quase acidente teria ocorrido no domingo, dia 15 de outubro, no Rio, às 21h. O Boeing da Gol decolou de Porto Alegre para pousar no aeroporto do Galeão, realizando o vôo 1805. O Fokker da TAM saiu do Rio de Janeiro com destino a Campinas, no interior de São Paulo, cumprindo o vôo 3831.

Aviões precisam voar a 300 metros de distância

Na hora do incidente, a aeronave da Gol começava a preparar o pouso no Rio, estava portanto em rota descendente, a 16,1 mil pés. O Fokker da TAM, que havia acabado de decolar, estava a 15,9 mil pés. Os dois aviões iam em sentido contrário e passaram a pouco mais de 60 metros de distância um do outro, com claro risco de acidente. As normas da própria Aeronáutica brasileira determinam que os aviões devem voar a uma distância mínima de 300 metros.

O caso teria sido uma das 22 quase colisões que foram registradas neste ano. Segundo a reportagem, o caso foi confirmado pela Aeronáutica. Nenhuma autoridade da Aeronáutica foi encontrada na noite de ontem pelo GLOBO para falar do ocorrido.

Esse incidente estaria narrado em um relatório produzido pela própria Aeronáutica que, segundo o “Jornal Nacional”, registra que, até julho deste ano, foram 22 incidentes. O número foi maior no ano passado, quando quase 80 colisões foram registradas. Mas o recorde ficou com 1998, quando encontros diretos a menos de 300 metros de distariam teriam somados 134 casos.

O Globo