Tucanos, que votaram unidos em Fruet no 1º turno, deram vitória ao petista

No início do segundo mandato, em que espera contar com apoio maciço do PMDB, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá novamente aliados no comando na Câmara e do Senado: Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Renan Calheiros (PMDB-AL) foram eleitos, respectivamente, presidentes das duas Casas.

Numa disputa bastante acirrada na Câmara, Chinaglia derrotou Aldo Rebelo (PC do B-SP), no segundo turno, por 261 votos a 243. O apoio das duas maiores bancadas da Câmara – o PMDB e o PT – e os votos da oposição no segundo turno, sobretudo do PSDB, deram a Chinaglia a vitória. No primeiro turno, Gustavo Fruet (PSDB-PR) recebeu 98 votos, o que comprova o apoio em peso dos tucanos.

A partir de agora, Lula terá de agir para superar as rusgas na base aliada. Em nota, o presidente comemorou a vitória do petista, mas elogiou a lealdade de Aldo. Com Chinaglia à frente da Câmara, Lula deve reduzir o espaço do PT no ministério.

No Senado, Renan foi reeleito ao derrotar José Agripino Maia (PFL-RN), por 51 votos a 28. Houve um voto nulo e um em branco. Também foram escolhidos os representantes das Mesas Diretoras das duas Casas.

Após eleito, Renan desdenhou da oposição. Na Câmara, Chinaglia, que teve apoio de parlamentares envolvidos no escândalo do mensalão, disse que a crise do Parlamento é página virada. Aldo, apesar da disputa na base, prometeu lealdade a Lula. Fruet se disse vitorioso por conseguir a unidade do PSDB.

Com vitória apertada, petista minimiza divisão da base e sela aliança com PMDBA eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP), 57, à presidência da Câmara marca a retomada do poder na Casa pelo PT e consolida a aliança com o PMDB, eixo da base parlamentar do segundo governo Lula. O petista foi apoiado pelos partidos que estiveram no centro do escândalo do mensalão.

Ex-líder do governo, Chinaglia venceu Aldo por uma diferença de apenas 18 votos e com apoios de um PSDB dividido. Outros seis deputados votaram em branco. No primeiro turno, a vantagem do petista sobre Aldo fora de 61 votos (236 a 175). O resultado mostra que a divisão na base se estendeu até o limite, prenunciando que o Palácio do Planalto terá a dura tarefa de reaproximar seus aliados.

O clima do plenário ao final do primeiro turno refletia a cisão, com uns governistas gritando “Arlindo, Arlindo”, e outros “1,2,3, é Aldo outra vez”.

Minutos após ser eleito, Chinaglia optou por um discurso conciliatório, citando tanto Aldo quanto Fruet. “Tenho uma relação especial com ambos e quero manter assim”, disse. Também mandou um recado àqueles que não optaram por ele: “Isso agora é passado”.

O petista também relativizou a divisão da base. “Não vejo com tanta dramaticidade. Há uma eleição, tem um resultado, isso acaba e agora temos que trabalhar respeitando cada um o seu espaço”.

Segundo aliados do petista, a eleição poderia ter sido resolvida no primeiro turno, mas a entrada de Fruet embaralhou a disputa. Após a derrota, o tucano declarou voto em Aldo.

A opção dele, entretanto, não foi regra no PSDB, que liberou sua bancada para votar como quisesse. Essa divisão favoreceu Chinaglia. Nos bastidores, a avaliação é que os 25 votos angariados por Chinaglia no segundo turno saíram, sobretudo, da bancada do PSDB.

O acordo mais explícito costurado para atrair parte dos tucanos foi a concessão da primeira-vice-presidência da Casa a Nárcio Rodrigues (PSDB-MG), afilhado do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB).

Após a eleição, Chinaglia manifestou gratidão ao PSDB. “Independentemente da questão numérica, o simbólico do apoio do PSDB foi muito importante, porque reforçou politicamente nossa candidatura e a imagem do PSDB, que estava se orientando pela proporcionalidade.”

A eleição de Chinaglia é estratégica para o Planalto, que terá de aprovar nos próximos meses medidas relacionadas ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

A vitória do petista também traz a reboque o sucesso do “megabloco” formado na véspera da eleição para divisão de cargos na Mesa, com 273 parlamentares, reunindo siglas como PP, PTB e PR (fusão de PL e Prona), que estiveram no centro do escândalo do mensalão.

Em seu discurso antes do primeiro turno, Chinaglia falou do assunto: “A página da crise está virada. Não podemos admitir que um deputado que não tenha nada a ver com a crise seja acusado por atos de outros por ser do mesmo partido”.

SILVIO NAVARRO, LETÍCIA SANDER, ADRIANO CEOLIN E ELIANE CANTANHÊDE

Folha de S. Paulo

2/2/2007