Lula prevê gastar R$ 89 milhões e Alckmin, R$ 85 milhões; candidatos ainda podem reavaliar os valores

A mais cara campanha eleitoral para presidente da República começa oficialmente hoje. Ontem, os sete candidatos a presidente anunciaram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que, juntos, prevêem um teto de gastos de R$ 279,1 milhões em sua luta para se eleger. É um valor 109% maior que o previsto para a eleição presidencial de 2002, considerado sem atualização.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva calcula despesas de até R$ 89 milhões. O ex-governador paulista Geraldo Alckmin, do PSDB, vem em segundo lugar, com R$ 85 milhões. Luciano Bivar (PSL) estima gastar R$ 60 milhões, o senador Cristovam Buarque (PDT) e José Maria Eymael (PSDC), R$ 20 milhões cada; a senadora Heloísa Helena (PSOL) previu R$ 5 milhões e Rui Pimenta (PCO), R$ 100 mil.

Na eleição passada, os então candidatos a presidente previram despesas de R$ 133,65 milhões. José Serra (PSDB) declarou teto de R$ 60 milhões e Lula, de R$ 48 milhões. Anthony Garotinho, então no PSB, esperava gastar R$ 25 milhões, Ciro Gomes (PPS), R$ 250 mil, e José Maria de Almeida (PSTU) e Rui Pimenta (PCO), R$ 200 mil cada. Curioso é que a estimativa atual de Rui é a metade do que declarou em 2002.

A previsão de gastos já serviu de munição para o embate entre os candidatos. Quem tem menos recursos saiu reclamando. “O montante de dinheiro que será disponibilizado nesta campanha pelos dois outros candidatos (Lula e Alckmin) é uma sinalização perversa do abuso do poder econômico”, atacou a senadora Heloísa Helena, ao entregar sua previsão. “Tem de jogar para baixo esse custo e fazer com que os custos sejam pagos de fato por recursos públicos”, disse o senador Cristovam Buarque. “Igual para todo mundo, igual.”

O candidato tucano ressaltou que os valores informados à Justiça Eleitoral se referem à previsão máxima de gastos. “Esse é o limite, não significa que vamos gastar isso”, afirmou Alckmin. “Nossa responsabilidade é fazer uma boa campanha. Faremos com o menor gasto possível e rigorosamente cumprindo a legislação.”

A previsão de gastos é um dado que a Justiça Eleitoral exige de todos os candidatos, mas correções podem ser feitas sem problemas. Na eleição de 2002, por exemplo, Lula previu inicialmente que gastaria R$ 36 milhões. No meio da campanha aumentou as despesas para R$ 48 milhões e acabou prestando contas de R$ 39 milhões.

NOVOS TEMPOS

Fator que torna as contas das campanhas presidenciais foco de atenção especial nessas eleições é o escândalo vivido pelo País desde o ano passado. Para tentar escapar da acusação de que compravam apoio no Congresso, o governo Lula e o PT sustentaram que o dinheiro repassado a aliados eram recursos de campanha não contabilizados. A versão não convenceu o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, que denunciou 40 pessoas à Justiça pelo mensalão.

Sinal dos novos tempos foi a cena vivida por Heloísa Helena na hora de entregar sua documentação ao TSE ontem. A aposentada Francisca da Silva Queiroz, de 76 anos, deu à senadora R$ 20 para sua campanha. Heloísa disse que tomaria um sorvete com o dinheiro, porque a doação seria irregular sem o devido registro oficial, respeitando o prazo da Justiça Eleitoral e com CPF e demais dados da doadora.

João Domingos / O Estado de S. Paulo